Após mais uma alta de juros determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira, subindo a Taxa Selic para 15% ao ano — a maior desde 2006 —, a tendência é o dólar recuar, com efeito na inflação.
Segundo especialistas, a valorização do real nos últimos meses já aparece nos índices de preços, a ponto de começarem a surgir projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) menores que 5% este ano. Projeções acima do teto da meta de 4,5% foram um dos argumentos usados pelo Banco Central para a sétima alta seguida de juros.
No ano, a moeda americana já caiu 12%, saindo de R$ 6,30 em janeiro para R$ 5,49. Ao mesmo tempo, o real se valoriza frente a outras moedas pela entrada de capital estrangeiro atraído pelas altas taxas de juros. Esse comportamento do dólar alivia preços de alimentos, combustíveis e produtos importados. Com isso, o mercado já revisa para baixo as projeções de inflação. O IPCA fechado do ano, que chegou a ser estimado em 5,7%, já caiu para 5,25% no Boletim Focus.
Influências externas
A ameaça a esse movimento é o conflito no Oriente Médio que pode aumentar o preço do petróleo. Entretanto, o início de um acordo entre os EUA e a China, que deve crescer menos este ano, traz menos pressão sobre preços. Os juros mais altos também esfriam a economia, com impacto nos preços no segundo semestre.
A guerra comercial promovida pelo presidente dos EUA, Donald Trump, é outro fator a deixar o dólar mais fraco no mundo, aumentando as incertezas e a perspectiva de desaceleração da economia global.
Alívio nos preços
O câmbio mais benigno, combinado a fatores internos como safra recorde de grãos, clima favorável, aumento da oferta de aves em razão da gripe aviária que suspendeu exportações, têm ajudado a aliviar os preços de alimentos. Frango e ovos devem seguir em queda, reflexo da maior oferta. Carnes, frutas, tomate e até o azeite devem contribuir para o alívio, além da menor pressão nos preços do café, que sobem, mas com reajustes menores.
A alimentação no domicílio, depois de subir 1,31% em março e 0,83% em abril, ficou praticamente estável em maio, com alta de 0,02%. A expectativa da LCA é de deflação para este subgrupo em junho, com queda de 0,32%, antes de voltar a subir a partir de agosto. No ano, a projeção de inflação da alimentação no domicílio da consultoria caiu de 7,7% para 7,3%.