A escalada do conflito entre Israel e Irã voltou a colocar no centro das atenções um dos principais corredores do petróleo global: o Estreito de Hormuz. Ameaçado de bloqueio por parte de Teerã, ele fez reacender temores sobre a segurança do fornecimento de energia mundial, especialmente para a Ásia, e já faz grandes exportadores do Golfo se mexerem.
Segundo o New York Times, temendo um bloqueio iminente, países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Iraque aumentaram os embarques de petróleo em até 16% em meados de junho. O movimento não é à toa: segundo analistas, um eventual fechamento do canal pode impulsionar o preço do Brent a patamares ainda mais elevados.
O que é o Estreito de Hormuz
O Estreito de Hormuz é uma crucial rota marítima entre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã, ligando-se ao Mar Arábico. Pela passagem circulam cerca de 20 milhões de barris de petróleo por dia — quase 20% do consumo global de líquidos petrolíferos e mais de 25% do comércio marítimo de óleo bruto. Também escoa cerca de um quinto do comércio mundial de GNL, principalmente do Catar.
Apesar de contarem com dutos para contornar a rota marítima, as capacidades são restritas:
- East-West Pipeline (Arábia Saudita): capacidade de 5 milhões barris/dia, podendo chegar a 7 milhões
- Duto Emirados–Fujairah: 1,8 milhão barris/dia
- Iraniano Goreh–Jask: cerca de 300 mil barris/dia
Mesmo com essas faixas, estima-se que mais de 15 milhões barris/dia permanecerão reféns do Estreito, sem alternativas viáveis.
Consequência no transporte e seguros
Só a ameaça de interrupção do tráfego de embarcações já traz consequências. O custo do seguro para navios na região subiu cerca de 60%, pressionando embargos de risco e elevando taxas de frete. Se a tendência continuar, reduzirá o número de embarcações disponíveis e poderá gerar atrasos em cadeias de abastecimento, especialmente na Ásia.
Autoridades iranianas afirmam que, se os Estados Unidos apoiarem Israel diretamente no conflito, isso legitimaria o fechamento do estreito como retaliação econômica. Tal cenário seria raro, mas teria repercussões significativas: o canal estreito (apenas cerca de 33 km de largura) é perigoso para navegação e não permite desvios simples.
Na quinta-feira (20), o petróleo tipo Brent chegou a subir quase 3%, a US$ 79, com a iminência, depois descartada, de os EUA entrarem na guerra. Mas, mesmo que isso não aconteça, os preços podem subir ainda mais com a interrupção do estreito.
Até quanto o petróleo pode subir?
O Citigroup projeta que o preço do Brent pode saltar para cerca de US$ 90 por barril em caso de fechamento do Estreito de Hormuz. O banco considera esse cenário como parte de sua projeção mais otimista (“bullish case”), mas também avalia que um bloqueio prolongado é improvável. A expectativa é de que todas as partes envolvidas priorizem uma reabertura rápida da rota marítima, o que limitaria a duração da alta nos preços.