As novas tarifas de Donald Trump estão reacendendo tensões em torno de um item essencial para a indústria de alimentos e bebidas, mas que a maioria dos consumidores raramente considera. As latas provavelmente ficarão mais caras após a decisão do presidente norte-americano de dobrar os impostos sobre o aço importado, principal material usado em latas para alimentos, e sobre o alumínio, comumente usado em bebidas.
Cerca de 80% do aço estanhado especializado — ou seja, aço com uma fina camada de estanho — usado nas latas de alimentos vem do exterior. E, embora cerca de 70% do alumínio usado em latas de cerveja, energéticos e refrigerantes seja reciclado, os 30% restantes, de alumínio virgem (ou novo), são em grande parte importados.
Produção no país
Fabricantes de aço e o governo Trump argumentam que tarifas mais altas são necessárias para proteger as indústrias da “concorrência estrangeira desleal” e incentivar investimentos em usinas novas e existentes. Mas fabricantes de latas e empresas de alimentos e bebidas afirmam que as novas tarifas vão elevar os preços e dificultar a concorrência com fornecedores estrangeiros.
As tarifas anteriores não incentivaram os fabricantes de aço e alumínio a expandirem a produção nos EUA dos metais usados para fabricar latas. Em vez disso, a reduziram.
Em 2018, Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio, com algumas exceções. Nos anos seguintes, produtores de aço encerraram nove linhas de produção de aço estanhado especializado em todo o país, restando apenas três, segundo o Can Manufacturers Institute.
Nas últimas duas décadas, o número de fundições de alumínio nos Estados Unidos caiu de 24 para apenas 4, de acordo com a Aluminum Association. Segundo ela, as altas tarifas sobre o alumínio importado não trarão de volta a produção de alumínio primário no país. Em vez disso, o setor precisa de uma mudança na política energética para fornecer a enorme quantidade de eletricidade necessária à produção de alumínio a um custo razoável.
A combinação das tarifas e da queda na produção de aço estanhado e alumínio fez os preços das latas metálicas dispararem nos últimos cinco anos. O preço das latas de aço e produtos de estanho para os fabricantes subiu 67% desde 2020; os preços das latas de alumínio aumentaram 26% desde então, segundo o Bureau of Labor Statistics.
Alternativas
As tarifas mais altas sobre o alumínio também podem levar fabricantes de bebidas a considerar embalagens alternativas. James Quincey, CEO da Coca-Cola, afirmou este ano que a gigante de bebidas poderia migrar para embalagens plásticas caso os preços do alumínio disparem.
Alguns fabricantes de cervejas artesanais — setor que, nos últimos anos, transferiu grande parte do seu envase de garrafas para latas de alumínio — também estão reavaliando suas opções diante das novas tarifas sobre o alumínio.