Queda contínua nas receitas, aumento de custos e perda de eficiência são a combinação explosiva que ajudam a explicar por que os Correios precisam de R$ 20 bilhões para fechar as contas na maior crise da sua história. Sob nova direção, com a chegada à presidência do servidor do Banco do Brasil Emmanoel Rondon, a estatal busca um cardápio de medidas e um empréstimo com garantia da União para tentar um respiro.
Mas as saídas devem ter pouco impacto para a sustentabilidade de longo prazo, na visão de especialistas, e tendem apenas a adiar um socorro do Tesouro Nacional. Mesmo uma privatização neste momento, que está fora do radar do governo, provavelmente seria difícil e teria que ser feita a um preço muito baixo devido ao tamanho do passivo da empresa.
Uma análise do balanço dos Correios revela que a receita líquida da empresa caiu 11,3% desde 2021, último ano em que deu lucro, impulsionado pelo boom das compras on-line na pandemia de Covid-19. Nos primeiros dois anos do terceiro mandato de Lula, a queda é de 4,6%. Mesmo assim, no acumulado de 2023 e 2024, o custo do serviço prestado cresceu 16,5%.
Mas a estatal caminhou na direção contrária. No geral, as despesas administrativas, comerciais e de pessoal tiveram um aumento de 21% entre 2022 e 2024. Só com pessoal, a alta foi de 43,1% no mesmo período. Outro gasto que disparou foram com precatórios (dívidas de decisões judiciais), que passou de de R$ 485 milhões para R$ 1,132 bilhão.
Busca de empréstimo
No primeiro semestre deste ano, as contas ficaram no vermelho em R$ 4,3 bilhões, contra perda de R$ 1,3 bilhão um ano antes. Na receita, o impacto da “taxação das blusinhas”, imposto sobre encomendas estrangeiras abaixo de US$ 50, em agosto do ano passado, reduziu os ganhos internacionais e derrubou a receita total da estatal em quase 12% no primeiro semestre deste ano. A receita caiu porque outras empresas entraram nessa logística.
Já o gasto com funcionários aumentou em mais 4,6% no período, assim como as despesas operacionais, com alta de 51,6%. Para cobrir a necessidade de caixa, a empresa resgatou todas as aplicações e, no fim de 2024, passou a depender de empréstimos bancários: foram R$ 550 milhões em dezembro e R$ 1,8 bilhão em meados de 2025. Os dirigentes buscam agora empréstimo de R$ 20 bilhões. Segundo técnicos, o crédito precisa sair até a primeira quinzena de novembro, diante de dívidas a vencer, sobretudo com os bancos.
Como o risco aumentou e o crédito ficou mais difícil, o Tesouro precisaria entrar como avalista na operação em uma solução que está sendo costurada com um grupo de bancos, envolvendo instituições públicas e privadas. Em tese, porém, a garantia da União depende de um parecer prévio da área técnica sobre a solvência da empresa.
Em nota, os Correios disseram que a operação está sendo desenhada para permitir a execução integral do plano de reestruturação, que prevê equilíbrio financeiro a partir de 2027. “O objetivo é que, após esse período, a empresa volte a operar de forma autossustentável, sem necessidade de aportes”, destacou.
A busca por empréstimo é uma alternativa para evitar um aporte do Tesouro, algo temido pela equipe econômica não só pelo gasto imediato, mas porque se caracterizaria uma situação de dependência da empresa — o que obrigaria o governo a colocar as despesas da estatal dentro do apertado orçamento federal. Seria preciso encontrar espaço para R$ 20 bilhões dentro do teto de gastos e novas receitas para não prejudicar a meta: duas coisas que estão em falta no ano que vem.