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Entenda a possível dolarização da Argentina, principal proposta do presidente eleito Javier Milei

A eleição presidencial da Argentina chegou ao fim com Javier Milei eleito no segundo turno. Uma das principais propostas de Javier é dolarizar a economia do país, o que significa substituir o peso pelo dólar como moeda oficial. O objetivo é conter a inflação da Argentina, que passa de 100% em 12 meses.

Veja o que mudaria para os argentinos e para os brasileiros, caso a mudança seja implementada.

O que é dolarização da economia argentina?

Na Argentina, hoje, é permitido ter conta de poupança em dólar, mas a moeda corrente é o peso. Por exemplo, imóveis são negociados em dólar, mas o pagamento tem que ser feito em pesos. Muitos poupam em dólares, seja em conta no banco ou em dinheiro, “embaixo do colchão”. Com a mudança proposta pelo novo presidente, o peso seria extinto e o dólar passaria a ser moeda oficial.

Os salários passariam a ser pagos em dólar?

Sem o peso, o dólar passa a ser a moeda corrente para todas as transações, incluindo o pagamento de salários.

Os argentinos ficariam ricos com a economia dolarizada?

Não, porque depende da taxa de câmbio na troca dos pesos por dólares. Quanto maior a taxa, menor o valor, em dólar, de salários e rendimentos.

O que mudaria com a dolarização formal?

É esperado um tombo na inflação. E que a estabilidade de preços se mantenha, já que a inflação em dólar, geralmente, é baixa. Por outro lado, o país abre mão de algumas medidas de política econômica, e passa a seguir todas as normas e índices do Fed, banco central americano.

Sem moeda própria, o governo não poderia mais fixar a taxa básica de juros, por exemplo, e passaria a seguir os juros do Fed. Se algum problema doméstico provoca uma recessão, não seria possível baixar juros para aquecer a economia. Se o Fed sobe os juros por algum motivo doméstico dos EUA, a economia argentina vai esfriar, mesmo que esteja estagnada.

E no caso de crises internacionais?

O país ficaria mais suscetível a choques externos. Uma alta nas cotações de matérias-primas negociadas em dólar, como o petróleo, pode afetar mais rapidamente a economia local.

Os serviços públicos, como saúde e educação, poderão ser afetados?

Com títulos de dívida em dólar, o governo perde margem de manobra nas contas públicas. Se uma crise derruba a arrecadação, para não ficar com um rombo, cortes de gastos podem ser abruptos, afetando serviços essenciais.

Para o Brasil, o que muda se a Argentina dolarizar?

Recessão e inflação descontrolada derrubam a demanda argentina. Se a dolarização estabilizar o vizinho, a demanda por bens e serviços brasileiros poderia aumentar ou parar de cair. Operacionalmente, a troca de moeda faria pouca diferença, pois as transações entre os dois países já é em dólar.

O país tende a continuar sendo um destino barato para o turismo de brasileiros. Depende da taxa de câmbio usada na troca, total do dinheiro em circulação, mas a tendência é que os preços em dólar sigam pelo menos tão baixos quanto atualmente.

Quais os obstáculos para a dolarização?

Faltam dólares para substituir todos os pesos. Estimativas para o valor necessário, dependendo do câmbio, vão de US$ 35 bilhões a US$ 50 bilhões, mas o banco central tem reservas de US$ 7,3 bilhões, em termos brutos, diz a consultoria 1816. O valor fica negativo quando se descontam os passivos.

Como ficariam os bancos?

Passariam a transacionar apenas com dólares, o que poderia ser um problema. Um fundo de reservas em dólar precisaria ser criado para lidar com eventuais problemas no sistema bancário, como foi feito no Equador e em El Salvador, que dolarizaram suas economias no início dos anos 2000. Não há casos de dolarização em economias de maior porte, como a argentina.

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