HomeEconomiaBrasilCompras internacionais de US$...

Compras internacionais de US$ 50: entenda a discussão sobre a possível retomada do imposto sobre importações

Atualmente, as compras do exterior abaixo de US$ 50 estão enquadradas no programa Remessa Conforme, da Receita Federal, e são taxadas somente pelo Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) estadual com alíquota de 17%. O imposto de importação federal, de 60%, é cobrado somente em remessas vindas do exterior e que custem acima de US$ 50.

O assunto ganhou os holofotes em abril de 2023, quando o governo tentou taxar varejistas chineses que usavam uma brecha da Receita Federal para vender seus produtos no Brasil sem pagar imposto.

A vontade de taxar as compras no exterior repercutiu mal e o tema tem gerado, desde então, discussões entre o governo federal, parlamentares da oposição e o empresariado brasileiro, que é crítico à medida.

Nesta semana, o assunto voltou a ser discutido publicamente. O fim da isenção em imposto de importação para remessas de até US$ 50 foi incluída em projeto que institui o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que ainda será votado pelos deputados. Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indicou que pode vetar a medida se ela for aprovada.

Entenda o começo da história

Tudo começou quando o Ministério da Fazenda e a Receita Federal anunciaram, em abril de 2023, que iriam extinguir uma isenção de imposto para remessas internacionais de até US$ 50 entre pessoas físicas.

Essa isenção não existia para o comércio. Mas, segundo o governo, a regra estava sendo usada de maneira irregular por varejistas internacionais, que se “disfarçavam” de pessoa física para não pagar impostos.

Como a medida foi muito criticada, o Ministério da Fazenda anunciou um programa para solucionar a questão no final de junho. Determinou a isenção da cobrança do imposto de importação sobre compras de até US$ 50 para as empresas que aderissem voluntariamente ao Remessa Conforme, da Receita Federal.

Em suma, quem se cadastrasse pagaria apenas o recolhimento do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), cobrado em compras feitas em plataformas online de varejistas internacionais, que passou a ser de 17% para todo o país.

Em novembro, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) chegou a dizer que o “próximo passo” do programa Remessa Conforme seria reinstaurar o imposto de importação para varejistas estrangeiras, que estavam isentas desde agosto. Depois de nova repercussão negativa, o assunto esfriou novamente.

O ministro Fernando Haddad afirmou que o programa Remessa Conforme serviu para dar transparência ao problema de entrada de produtos que burlavam a Receita Federal, e indicou que a decisão de retomar as taxas será tomada em debate com o Congresso e com base em evidências.

Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a tendência no governo é de vetar a retomada de um imposto federal sobre importações de até US$ 50, se a volta da tributação for aprovada pelo Congresso Nacional.

Críticas de parlamentares

Durante o debate sobre a taxação de importações na quarta-feira (22), o deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP) usou sua palavra para questionar o aumento de arrecadação por meio de alta de tributos.

Sobre a isenção aos US$ 50, afirmou que teria havido uma briga entre deputados do PT e o governo na última semana, e perguntou a Haddad qual a posição oficial do Ministério da Fazenda sobre a retomada da taxação federal.

Em resposta, o ministro da Fazenda afirmou que é preciso mais tempo para o governo tomar uma posição sobre a retomada do imposto federal, e afirmou que a decisão dos governadores de aumentar o ICMS estadual foi “correta”. Haddad ainda disse que, desde o ano passado, todas as remessas do exterior passaram a ser registradas.

Na réplica, Kataguiri disse não ter insinuado que a indústria brasileira não é honrada. Haddad conta com mais essa medida para melhora da arrecadação do governo, deixando-o mais próximo de cumprir as metas fiscais. Mas a medida tem críticos até mesmo dentro da base aliada. Os parlamentares que apoiam o governo temem que o fim da isenção possa causar desgaste à gestão de Lula como um todo.

O que dizem os varejistas brasileiros?

De início, as empresas brasileiras acusavam as concorrentes do exterior de praticar “contrabando digital” e evasão fiscal, ao se aproveitarem de brechas nas regras e fraudarem vendas para evitar a cobrança do imposto de importação.

Na visão dos varejistas do país, o Remessa Conforme não soluciona o problema, pois a isenção representa uma penalização da produção nacional, cuja tributação é mais alta do que os 17% cobrados de ICMS.

Em nota divulgada nesta semana, entidades ligadas ao varejo afirmam que “o impacto da isenção de até US$ 50 do imposto federal no emprego hoje é mais severo em setores da indústria e do comércio cujos produtos são mais comprados nas importações de até 50 dólares”. A CNI, inclusive, encomendou uma pesquisa que diz que apenas 18% da população com renda de até dois salários mínimos fizeram compras isentas, enquanto as de renda acima de cinco salários mínimos foram 41%.

Citando a mesma pesquisa, o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) afirma que, ao perder vendas para essas importações menos tributadas, a indústria e o comércio nacionais deixam de empregar.

As regras

O Ministério da Fazenda publicou em 30 de junho de 2023 uma portaria com as novas regras para compras internacionais feitas pela internet.

Com a norma, o governo deixou de cobrar o Imposto de Importação para compras online de até US$ 50, desde que as empresas entrem em um programa da Receita e recolham tributos estaduais.

Antes, todas as compras de importados eram taxadas, independentemente do valor. A isenção de US$ 50 que existia era restrita apenas para remessas internacionais entre pessoas físicas. Ou seja, empresas estavam fora desta isenção.

De acordo com a portaria, as compras on-line de até US$ 50 feitas em empresas que não cumprirem com as novas regras do governo continuam sendo taxadas. A medida começou a valer em 1º de agosto de 2023.

Alguns dos critérios para as empresas de comércio eletrônico, estão:

  • fazer o repasse dos impostos cobrados;
  • detalhar para o consumidor informações sobre os valores de impostos, tarifas postais e demais despesas;
  • colocar no pacote enviado ao consumidor de maneira visível, no campo do remetente, a marca e o nome da empresa em questão;
  • realizar o combate ao descaminho e contrabando.

Na ocasião, o Ministério da Fazenda também determinou que as empresas recolham o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para que as compras de até US$ 50 não recebam o Imposto de Importação. Ainda segundo o texto:

  • para compras acima de US$ 50, não houve mudanças nos tributos federais. Com isso, segue em vigor a tributação de 60% do imposto de importação.
  • a declaração de importação e o eventual pagamento dos tributos acontece antes da chegada da mercadoria.
  • o vendedor é obrigado a informar ao consumidor a procedência dos produtos e o valor total da mercadoria (com inclusão dos tributos federais e estaduais).

- Anúncio -

Most Popular

More from Author

Trump diz que vai impor tarifa de 100% em filmes feitos fora dos Estados Unidos

Quatro meses após afirmar que iria autorizar uma tarifa de 100%...

Crise do peso eleva juros das hipotecas na Argentina a 15% e ameaça agenda de Milei

Quando o presidente Javier Milei sofreu uma recente derrota eleitoral que ameaça descarrilhar...

Pedidos de recuperação judicial no agronegócio disparam 32% no 2º trimestre, diz Serasa Experian

O número de pedidos de recuperação judicial no setor do agronegócio disparou 31,7%...

- Anúncio -

Read Now

Trump diz que vai impor tarifa de 100% em filmes feitos fora dos Estados Unidos

Quatro meses após afirmar que iria autorizar uma tarifa de 100% para filmes estrangeiros, Donald Trump disse que vai impor a mesma tarifa para “todo e qualquer filme que for feito fora dos Estados Unidos”. Em sua conta na rede social Truth, Trump escreveu: “Nosso negócio de cinema foi...

Secretário de Comércio dos EUA diz que é preciso ‘consertar’ o Brasil para o país alinhar-se aos EUA

O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, afirmou que o Brasil precisa ser “consertado” para deixar de prejudicar os americanos. A declaração foi dada em entrevista à emissora NewsNation no fim de semana. O membro do governo do presidente Donald Trump listou países que, segundo...

Crise do peso eleva juros das hipotecas na Argentina a 15% e ameaça agenda de Milei

Quando o presidente Javier Milei sofreu uma recente derrota eleitoral que ameaça descarrilhar sua agenda de livre mercado, investidores fugiram em massa, provocando uma corrida cambial tão intensa que o governo dos Estados Unidos prometeu uma linha de socorro de US$ 20 bilhões para estabilizar os mercados argentinos. Com a disparada...

Pedidos de recuperação judicial no agronegócio disparam 32% no 2º trimestre, diz Serasa Experian

O número de pedidos de recuperação judicial no setor do agronegócio disparou 31,7% no segundo trimestre, se comparado ao mesmo período de 2024, alcançando 565 solicitações, segundo monitoramento da Serasa Experian. Os dados sugerem que os desequilíbrios financeiros causados pelas margens apertadas dos produtores rurais, que vêm desde a quebra da...

Inflação do aluguel acelera em setembro, mas ritmo não deve se manter, dizem economistas

O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), conhecido como a inflação do aluguel, acelerou em setembro para 0,42%, após registrar alta de 0,36% em agosto.Tanto o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), quanto o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) avançaram em ritmo maior do...

Alckmin diz que Brasil abriu diálogo com EUA sobre tarifaço e cita data center e terras raras como moeda de troca

O governo brasileiro vê um canal aberto de negociação com os Estados Unidos para tentar reverter o tarifaço de 50% sobre produtos nacionais e pretende usar como trunfos a oferta de minerais estratégicos e a atração de data centers, afirmou o vice-presidente Geraldo Alckmin nesta segunda-feira (29). As conversas sobre as tarifas ganharam...

Crédito desacelera, inadimplência sobe e juros avançam em agosto, aponta Banco Central

O Banco Central divulgou nesta segunda-feira (29) as estatísticas de crédito, inadimplência e juros referentes a agosto de 2025. Os dados mostram que, embora o crédito continue crescendo, o ritmo de expansão desacelerou, a inadimplência aumentou e as taxas de juros permanecem elevadas, especialmente em linhas como cartão...

Dólar cai ao menor patamar do ano com possível aproximação de Trump e Lula; Bolsa renova recorde

O discurso do presidente americano, Donald Trump, na Conferência Geral das Nações Unidas, teve forte influência sobre os rumos dos principais indicadores financeiros no Brasil nesta terça-feira. Ao mencionar o presidente Lula e dizer que os dois tiveram “uma ótima química” em um rápido encontro nos bastidores da...

Câmara de Comércio Americana diz que encontro de Trump e Lula abre caminho para diálogo sobre tarifaço

A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham) divulgou nota reagindo às declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, em relação a Lula, em meio às negociações frustradas em torno do tarifaço de 50% sobre importações americanas de produtos brasileiros. A entidade, que reúne empresas brasileiras, americanas...

Haddad diz que Trump e Lula vão falar sobre ‘coisas que realmente importam’ e cita tratativas sobre minerais críticos e biocombustíveis

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o presidente Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, devem começar a discutir “coisas que realmente importam”. Durante seu discurso na ONU, Trump disse que marcou uma reunião com Lula na próxima semana. A conversa deve acontecer por telefone ou...

Trump se reúne com Milei em meio à expectativa de socorro financeiro dos EUA a Argentina

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se encontrou com o presidente da Argentina, Javier Milei, em meio à expectativa por um possível socorro financeiro da Casa Branca ao governo sul-americano. Na reunião, durante a Assembleia Geral da Onu, Trump ofereceu amplo apoio ao líder argentino, mas...

Por que o BC manteve os juros no Brasil e o Fed cortou a taxa nos EUA, mesmo com inflação fora da meta por...

A quarta-feira foi marcada por duas decisões importantes dos bancos centrais (BC) de Brasil e Estados Unidos. Por aqui, o BC decidiu manter a Selic em 15% ao ano, a maior desde 2006, e deixou claro que assim ela ficará por “período bastante prolongado”. Nos EUA, o Federal Reserve (Fed) cortou a taxa...