Para um iPhone chegar às mãos de um consumidor nos Estados Unidos ou no Brasil, mais de uma centena de empresas produzem componentes, em dezenas de países ao redor do mundo — a maioria deles na Ásia, o alvo inicial da guerra tarifária deflagrada por Donald Trump.
Desde a semana passada, analistas e consultorias vinham estimando o que iria acontecer com o preço do iPhone com as tarifas do presidente americano. Em geral, apontavam que o aparelho poderia dobrar de preço no mercado.
Mas Trump decidiu recuar e isentou aparelhos celulares do “tarifaço”, prometendo que celulares e computadores terão uma tarifa específica e que vai avaliar toda a cadeia de suprimentos eletrônicos.
Filho da globalização
Produto que mudou a história da Apple e inaugurou a atual era dos smartphones, o iPhone é um filho da globalização. Antes de chegar aos seus principais mercados, o aparelho que é o carro-chefe da Apple precisa ser montado em países como China e Índia. Brasil e Vietnã também produzem o aparelho, mas em menor escala. O iPhone não tem sequer as câmeras, hoje capazes de filmarem até em 3D, produzidas integralmente por uma única empresa em um único país.
A Sony, responsável pelos sensores, fornece os componentes da Apple a partir de cinco países (Japão, Taiwan, Tailândia, Coreia do Sul e Malásia). Já as lentes, que ajustam o foco e direcionam a luz até o sensor, são produzidas pela Largan Precision, de Taiwan, e pela Sunny Optical, da China.
Efeito “tarifaço”
Antes da isenção que “salvou” o preço do iPhone, algumas projeções de analistas apontavam que a guerra de tarifas poderia fazer o preço do celular custar o dobro no mercado americano, o principal do aparelho. O banco UBS, por exemplo, estimou que o iPhone 16 Pro Max de 256 GB, montado na China, teria um aumento de US$ 675 (cerca de R$ 4.090).
Grande alvo do “tarifaço”, a China é responsável por 80% da produção de iPhones destinados aos EUA. A Índia responde por quase 20% do fornecimento, segundo dados da Counterpoint. A consultoria avalia que embora a Apple tenha margens de lucro mais altas que as concorrentes — o que poderia amortecer parte do impacto das tarifas — os consumidores americanos teriam que enfrentar aumentos significativos nos preços do aparelho.
Impacto viria também para Brasil
A expectativa entre analistas é de que os preços dos celulares, com as taxações, iriam subir no mundo todo se o plano de Trump fosse mantido – inclusive com efeito para o consumidor brasileiro, já que as cadeias de produção e transporte se consolidaram no mundo.
Parte dos componentes chineses para smartphones passam pelos Estados Unidos, especialmente pelo porto de Miami, antes de chegarem em outros países, incluindo o Brasil. Isso significa que esses componentes já seriam taxados ali. Ou seja, mesmo para as empresas que produzem no Brasil, há impacto, já que os insumos chegam mais caros e encarecem o produto final.