Quando o presidente Javier Milei sofreu uma recente derrota eleitoral que ameaça descarrilhar sua agenda de livre mercado, investidores fugiram em massa, provocando uma corrida cambial tão intensa que o governo dos Estados Unidos prometeu uma linha de socorro de US$ 20 bilhões para estabilizar os mercados argentinos.
Com a disparada dos juros e o aperto do crédito, bancos quase triplicaram as taxas hipotecárias para 15% acima da inflação, ameaçando fechar uma parte do sistema financeiro que só recentemente havia voltado à vida.
O Banco Nación cancelou uma viagem a Wall Street, onde executivos iriam apresentar uma oferta de títulos que financiaria hipotecas na Argentina. Seria um evento relativamente corriqueiro para banqueiros na maioria dos outros países. Mas na Argentina — onde os moradores foram obrigados a comprar casas com pilhas de dinheiro vivo após décadas de inflação fora de controle, desvalorizações cambiais e calotes que abalaram a economia repetidas vezes — seria um sinal de que o país finalmente dava um pequeno passo em direção a normalidade. O que não se concretizou.
A recente turbulência no mercado foi um lembrete contundente de que, apesar dos sinais de recuperação desde que Milei assumiu há menos de dois anos, seu sucesso está longe de garantido. O líder libertário aplicou uma espécie de terapia de choque que conteve a inflação descontrolada, derrubando-a dos três dígitos para cerca de 34% ao cortar gastos, demitiu funcionários públicos e liberou setores inteiros da economia de regulações. Mas sua popularidade sofreu um baque, minada pelos cortes na saúde e na educação e por um escândalo de suborno que se espalhou até seu círculo mais próximo.