Em meio a críticas recentes do presidente Donald Trump e a investigações do Pix conduzidas por órgãos americanos, o sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central (BC) segue em expansão internacional, e acaba de dar um passo inédito nos Estados Unidos.
Pela primeira vez, turistas brasileiros poderão fazer compras em território americano e pagar diretamente em reais, através do sistema brasileiro, com conversão cambial em tempo real e sem a necessidade de cartão de crédito.
A novidade é fruto de uma parceria entre a fintech brasileira PagBrasil e a gigante americana de pagamentos Verifone, que juntas lançaram o Pix Internacional, uma solução que permite a aceitação do método brasileiro diretamente nas maquininhas dos lojistas americanos.
A nova ferramenta já está disponível em pontos de venda nos EUA e promete transformar a experiência de consumo dos quase dois milhões de brasileiros que visitam o país todos os anos, número que cresceu mais de 17% de 2023 para 2024.
Antes, o Pix só podia ser utilizado nos EUA de forma indireta, por meio de chaves vinculadas a lojistas brasileiros. Agora, qualquer comerciante nos EUA poderá digitar o valor da compra em dólares, e a maquininha irá gerar um QR Code para pagamento.
O consumidor, ao escanear o código com o aplicativo de seu banco no Brasil, verá o valor já convertido para reais, incluindo o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 3,5%. A transação é confirmada em segundos, e o dinheiro cai diretamente na conta do vendedor.
Segundo a fintech brasileira, para os lojistas, a vantagem vai além da conveniência: as transações via Pix Internacional custam cerca de 2%, sem taxas adicionais, enquanto operações com cartões de crédito costumam variar entre 2% e 3%, além de encargos fixos.
Avanço do Pix
O Pix foi lançado oficialmente em novembro de 2020, no governo de Jair Bolsonaro, e rapidamente provocou uma revolução no sistema bancário nacional. Modelos tradicionais como TED e DOC perderam espaço para o pagamento instantâneo, especialmente porque, no Pix, o usuário não paga tarifa e vê o dinheiro na conta logo depois de apertar o botão que libera a transação.
No ano passado, foram movimentados R$ 26,455 trilhões em transferências feitas via Pix, segundo dados do Banco Central (BC). Com isso, bancos perderam receita. E modelos de pagamento como Google Pay e Apple Pay acabam não encontrando um terreno tão fértil para se desenvolverem.
No relatório elaborado pelo Escritório do Representante do Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês), que será responsável pela investigação, os EUA alegam que o modelo brasileiro de pagamento pode impactar os negócios de empresas americanas.
O escritório americano mistura a questão dos meios de pagamento com multas impostas a redes sociais americanas que não obedecerem a ordens judicias para suspensão de perfis que postam discurso de ódio.
E conclui que essas práticas podem “prejudicar a competitividade das empresas americanas que atuam no comércio digital e nos serviços de pagamento eletrônico, por exemplo, ao aumentar os riscos ou custos, restringir sua capacidade de fornecer serviços ou realizar práticas comerciais”.